Sob uma arena gigantesca, ladeada por
uma multidão afoita por sangue, os gladiadores da Roma Antiga davam suas vidas
em nome de um espetáculo. Escravos treinados especialmente para esse tipo de
combate, os gladiadores duelavam diante de toda a população romana, até que um
ficasse desarmado, ferido ou até morresse. Bancado pelos imperadores, a pugna
sangrenta foi a maneira encontrada pelo Estado Romano para entreter um povo
sedento de competição.
Quase 2.300 anos depois, o espírito
de torcida e competição ainda pulsa em nossas veias. Sem ganhar um único
tostão, não faltam torcedores que dão a voz, o corpo e boa parte do seu salário
pelo seu time de futebol. Com razões ainda menos justificáveis, há quem fique
magnetizado pelo Big Brother, a
procura de alguém em que ele possa torcer para se tornar um milionário e
subcelebridade. E mais de 20 milhões de pessoas ficaram em casa só para ver
Carminha sendo expulsa da mansão em Avenida
Brasil.
No período eleitoral, a arena de
combates invade nossas casas, e os competidores esperneiam, imploram e compram
nossas torcidas. No início, boa parte das pessoas torce o nariz, incomodadas
por uma propaganda eleitoral interromper a novela nossa de cada dia. Mas bastam
alguns meses para até os menos engajados na política exporem suas opiniões e,
ainda que timidamente, torcer por um candidato.
Há quem faça isso, evidentemente, por
algum benefício individual. Não são poucos os que “vendem” sua torcida pela
esperança de possuir um cargo no confortável poder público, ou ainda garantir
vantagens de toda sorte. Há quem torça para “pagar uma dívida” ao candidato que
em determinado momento da vida o ajudou.
Mas é verdade que até o mais rico dos
candidatos não tem como pagar toda uma população, que nesses tempos santifica
alguns ao passo que demoniza outros. A corrida política é um jogo perfeito, e é
difícil, como qualquer outro jogo, não cair nas suas amarras. Deveria ser algo
sério, quase um Concílio de Trento. Afinal, estamos discutindo o futuro da
cidade. Mas isso soa chato demais, então
preferimos falar desse mesmo futuro na base da briga.
As armas de nossos competidores vêm
em panfletos e comerciais de TV que dariam inveja a qualquer beato que espera
uma canonização da Igreja Católica. E a torcida entra no duelo, usando todos os
recursos possíveis. Implicam, choram, aplaudem, e abarrotam seus perfis na rede
social com frases do tipo “é xx neles”.
A campanha política terminou, e
alguns saíram dela com a sensação de estar voltando vitorioso da Guerra dos
Farrapos. Para outros, sobrou o amargo sabor da derrota. Alguns choraram pelos
seus candidatos, outros fizeram festa. Muitos entraram em luto psicológico, e
muitos outros decidiram emendar a comemoração com o feriado. Enquanto isso
nossos gladiadores afiam suas espadas. Dão tapinha nas costas e planejam novas estratégias
para daqui a alguns anos, iniciar um novo combate. Afinal, a cidade pode parar,
menos o espetáculo.
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