quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Por que adoramos torcer e brigar por política?



Sob uma arena gigantesca, ladeada por uma multidão afoita por sangue, os gladiadores da Roma Antiga davam suas vidas em nome de um espetáculo. Escravos treinados especialmente para esse tipo de combate, os gladiadores duelavam diante de toda a população romana, até que um ficasse desarmado, ferido ou até morresse. Bancado pelos imperadores, a pugna sangrenta foi a maneira encontrada pelo Estado Romano para entreter um povo sedento de competição.
Quase 2.300 anos depois, o espírito de torcida e competição ainda pulsa em nossas veias. Sem ganhar um único tostão, não faltam torcedores que dão a voz, o corpo e boa parte do seu salário pelo seu time de futebol. Com razões ainda menos justificáveis, há quem fique magnetizado pelo Big Brother, a procura de alguém em que ele possa torcer para se tornar um milionário e subcelebridade. E mais de 20 milhões de pessoas ficaram em casa só para ver Carminha sendo expulsa da mansão em Avenida Brasil.
No período eleitoral, a arena de combates invade nossas casas, e os competidores esperneiam, imploram e compram nossas torcidas. No início, boa parte das pessoas torce o nariz, incomodadas por uma propaganda eleitoral interromper a novela nossa de cada dia. Mas bastam alguns meses para até os menos engajados na política exporem suas opiniões e, ainda que timidamente, torcer por um candidato.
Há quem faça isso, evidentemente, por algum benefício individual. Não são poucos os que “vendem” sua torcida pela esperança de possuir um cargo no confortável poder público, ou ainda garantir vantagens de toda sorte. Há quem torça para “pagar uma dívida” ao candidato que em determinado momento da vida o ajudou.
Mas é verdade que até o mais rico dos candidatos não tem como pagar toda uma população, que nesses tempos santifica alguns ao passo que demoniza outros. A  corrida política é um jogo perfeito, e é difícil, como qualquer outro jogo, não cair nas suas amarras. Deveria ser algo sério, quase um Concílio de Trento. Afinal, estamos discutindo o futuro da cidade.  Mas isso soa chato demais, então preferimos falar desse mesmo futuro na base da briga.
As armas de nossos competidores vêm em panfletos e comerciais de TV que dariam inveja a qualquer beato que espera uma canonização da Igreja Católica. E a torcida entra no duelo, usando todos os recursos possíveis. Implicam, choram, aplaudem, e abarrotam seus perfis na rede social com frases do tipo “é xx neles”.
A campanha política terminou, e alguns saíram dela com a sensação de estar voltando vitorioso da Guerra dos Farrapos. Para outros, sobrou o amargo sabor da derrota. Alguns choraram pelos seus candidatos, outros fizeram festa. Muitos entraram em luto psicológico, e muitos outros decidiram emendar a comemoração com o feriado. Enquanto isso nossos gladiadores afiam suas espadas. Dão tapinha nas costas e planejam novas estratégias para daqui a alguns anos, iniciar um novo combate. Afinal, a cidade pode parar, menos o espetáculo.

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