Qualquer perfil
de Facebook que se preze tem dezenas ou centenas de fotos de festas, viagens e
momentos felizes. Claro, com muitas curtidas e comentários.
Ao ligar o
rádio, as músicas mais tocadas são sertanejos universitários, arrochas e afins.
Dificilmente uma bossa nova será veiculada numa rádio de alta audiência. Nem as
trilhas sonora das novelas, acostumadas com canções de João Gilberto e Tom
Jobim, escaparam das músicas monossilábicas que empregnaram nossos tempos (tchu
tcha, oi oi oi, etc.).
A publicidade,
desde sempre, convida o público a ser feliz. Felicidade, aliás, sempre foi o
tema central das propagandas no mundo inteiro, como se o consumo fosse um
"lugar de gente feliz".
Quem é
melancólico pode muitas vezes sofrer com suas preferências culturais. Ouvir
MPB, assistir filmes dramáticos ou ler uma boa obra motivacional pode ganhar
alguns olhares de estranhamento. Pra quê dá espaço a tristeza se podemos
escutar arrocha e sertanejo universitário?
A verdade é que
vivemos uma época em que parecer ser feliz é mais que uma moda, é uma
obrigação. Estamos expostos o tempo todo através das redes sociais.
Experimentamos o que as celebridades vivem como um mandamento. Por isso mesmo,
estampar nossos corpos malhados, as festas a que vamos e os lugares a que
viajamos se transformam em exigência, como se fosse preciso escancarar para
nossos contatos o quanto somos populares, o quanto nos divertimos e o quanto
somos "vida loca".
É natural,
assim, que Michel Teló com seu "ai se eu te pego" vire um fenômeno. A
música é divertida e cumpre seu papel, que é entreter. Mas só isso. Canções
como "Flor da noite", de Nana Caymmi, apesar de bela e compor a
trilha sonora de uma novela global, sofre uma represália popular por ser
"depressiva demais". Os poucos momentos que nos permitimos
transparecer tristeza são para ouvir canções batidas de amor, ao melhor estilo
brega.
A tristeza
sempre foi um combustível de expressão das mais diferentes artes. A MPB, como
disse, está repleta de músicas que falam sobre os sentimentos humanos. Assim
como obras plásticas, filmes, novelas e livros. Mas a necessidade de agradar
todo mundo ao mesmo tempo tem encurralado essas obras, transformando-as em
besteirois que passe a impressão de felicidade automática.
Não há nada de
errado em postar fotos sorridentes no Facebook, ou gostar de ouvir músicas que
estão aí só pra divertir. Mas me preocupa essa necessidade de transparecer
felicidade o tempo todo. Eu vou continuar postando fotos divertidas na minha
rede social e escutando músicas populares, pra rir e distrair. Mas vou
continuar me dando o direito de assistir filmes e ouvir músicas melancólicas,
pra refletir. Porque se tristeza demais pode ser diagnosticado como depressão,
felicidade em demasia pode ser um sinal visível
de que a vida está se tornando um teatro.
Disse tudo! Poxa, vc escreve bem pra caramba. Gostei!
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