quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ser feliz o tempo todo - que saco!

Qualquer perfil de Facebook que se preze tem dezenas ou centenas de fotos de festas, viagens e momentos felizes. Claro, com muitas curtidas e comentários.
Ao ligar o rádio, as músicas mais tocadas são sertanejos universitários, arrochas e afins. Dificilmente uma bossa nova será veiculada numa rádio de alta audiência. Nem as trilhas sonora das novelas, acostumadas com canções de João Gilberto e Tom Jobim, escaparam das músicas monossilábicas que empregnaram nossos tempos (tchu tcha, oi oi oi, etc.).
A publicidade, desde sempre, convida o público a ser feliz. Felicidade, aliás, sempre foi o tema central das propagandas no mundo inteiro, como se o consumo fosse um "lugar de gente feliz".
Quem é melancólico pode muitas vezes sofrer com suas preferências culturais. Ouvir MPB, assistir filmes dramáticos ou ler uma boa obra motivacional pode ganhar alguns olhares de estranhamento. Pra quê dá espaço a tristeza se podemos escutar arrocha e sertanejo universitário?
A verdade é que vivemos uma época em que parecer ser feliz é mais que uma moda, é uma obrigação. Estamos expostos o tempo todo através das redes sociais. Experimentamos o que as celebridades vivem como um mandamento. Por isso mesmo, estampar nossos corpos malhados, as festas a que vamos e os lugares a que viajamos se transformam em exigência, como se fosse preciso escancarar para nossos contatos o quanto somos populares, o quanto nos divertimos e o quanto somos "vida loca".
É natural, assim, que Michel Teló com seu "ai se eu te pego" vire um fenômeno. A música é divertida e cumpre seu papel, que é entreter. Mas só isso. Canções como "Flor da noite", de Nana Caymmi, apesar de bela e compor a trilha sonora de uma novela global, sofre uma represália popular por ser "depressiva demais". Os poucos momentos que nos permitimos transparecer tristeza são para ouvir canções batidas de amor, ao melhor estilo brega.
A tristeza sempre foi um combustível de expressão das mais diferentes artes. A MPB, como disse, está repleta de músicas que falam sobre os sentimentos humanos. Assim como obras plásticas, filmes, novelas e livros. Mas a necessidade de agradar todo mundo ao mesmo tempo tem encurralado essas obras, transformando-as em besteirois que passe a impressão de felicidade automática.
Não há nada de errado em postar fotos sorridentes no Facebook, ou gostar de ouvir músicas que estão aí só pra divertir. Mas me preocupa essa necessidade de transparecer felicidade o tempo todo. Eu vou continuar postando fotos divertidas na minha rede social e escutando músicas populares, pra rir e distrair. Mas vou continuar me dando o direito de assistir filmes e ouvir músicas melancólicas, pra refletir. Porque se tristeza demais pode ser diagnosticado como depressão, felicidade em demasia pode ser um sinal visível  de que a vida está se tornando um teatro.

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