quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Natal x Carnaval: o embate de duas festas mundanas


Se fosse um santo, feriado certamente seria o mais aclamado por quem trabalha cinco dias por semana, oito horas por dia. Talvez seja por isso que, a cada ano, duas datas costumam causar frisson em todos os brasileiros: Natal e Carnaval.
A primeira surge de um contexto cristão, a segunda é declaradamente pagã. Uma quer que o homem exponha seus sentidos mais altruístas. A outra pretende que cada um extravase seu ser animal. Salvo as caraterísticas próprias de cada data, uma coisa é certa: o Carnaval soa muito mais verdadeiro que o Natal.
Primeiro porque o Carnaval é uma festa mundana. A mais mundana das festas, na teoria e na prática. E nunca quis transparecer outra coisa. Uma vez ao ano, os brasileiros são convocados a soltarem seus instintos mais oprimidos. Dançar, pular, cantar e agir de forma bizarra, como jamais se faria em um churrasquinho de domingo.
Do outro lado, o Natal comemora o nascimento de Cristo, mas é difícil lembrar outro momento em que o aniversariante é o menos lembrado da festa. Deveria ser uma celebração de paz, mas se transformou numa festa de promoções e descontos. Deveria promover a troca de bons sentimentos, mas o marketing e a ganância humana deram outro nome a isso: troca de presentes. Na teoria, uma festa sagrada. Na prática, mais um festejo mundano.
De hipocrisia ninguém pode acusar o Carnaval. É claro que há interesses comerciais, e quem disse que não há? Ora, ainda vivemos no capitalismo. A fantasia principal é não ter fantasias, o que é conveniente se levar em consideração que vivemos num país tropical.
O Natal esquece essa premissa. Enfeitam-se casas com pinheiros e neves artificiais, tentando recriar um efeito europeu impossível debaixo do calor cruel do nosso país. E só o amor de Cristo pra ter piedade daquelas fotos com gorrinho de natal na cabeça. Seria pra esconder do sol?
Nus, nas vestes e nas intenções, o Carnaval não esconde a sujeira debaixo do tapete. Pelo contrário, escancara pra quem quiser ver. É o mais próximo que o Brasil conseguiu chegar da Grécia Antiga: o prazer pelo prazer. Sem demagogia, pão e circo, e pronto.
Lembrar-se dos que sofrem é ótimo. Mas por que só no Natal? Os mutirões para dar comida e brinquedo aos pobres me causam ânsia. É claro que há exceções, que há grupos que trabalham o ano inteiro no combate à miséria. Mas vai me dizer que você não conhece ninguém que faz isso apenas no Natal, com uma certeza absoluta de estar fazendo a diferença na humanidade?
E o Papai Noel! Ah, o Papai Noel! Aquela carinha gorducha e sua risadinha simpática nunca me enganaram. O bom velhinho de bom não tem nada. Dar presentes apenas às crianças que foram boazinhas durante o ano? Que grande maneira de levar a mensagem de benevolência e paz, não? Não sei o que é pior: os pais fingirem que enganam as crianças, as crianças fingirem que acreditam ou ambos fingirem acreditar que esse gesto possa ser uma demonstração de amor.
Essa história de voltar a ser criança no Natal é conversa pra boi dormir. Isso ocorre no Carnaval. Só isso pra explicar homens barbados vestindo-se de mulher, mulheres vestidas de muito brilho e pouco pudor, e todo mundo requebrando até o chão como se a quarta-feira de cinzas nunca fosse chegar.
Com dívidas e ressacas a mais, o Natal e o Carnaval terminam e, no fim, tudo volta ao normal. Até o dia que essas datas batem novamente às nossas portas, nos convidando a viver tudo aquilo que já sabemos. Mas esquecem de avisar um detalhe importante: o que não se vive durante um ano inteiro, dificilmente será vivido em um único feriado.

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