Corre
pelas redes sociais um texto atribuído a uma importante publicitária
brasileira, em que ela, de forma leve e criativa, defende a ética da atividade
publicitária. Escrita como uma carta em tom de crítica endereçada a Max, o vilão trapalhão de Avenida Brasil, o texto defende a
credibilidade do profissional de publicidade. É que Carminha, sempre tão
espirituosa, a certo momento da novela tentava convencer o até então marido
Tufão a financiar uma agência de propaganda para Max. O autor da novela, João
Emanuel Carneiro, talvez quisesse fazer referência a Marcos Valério e Duda
Mendonça, publicitários envolvidos no escândalo do mensalão.
O
texto é muito bem escrito, a intenção é bacana, e usar o gancho de uma novela
de grande repercussão para defender a categoria pode até ser louvável. Mas, eu
que também sou publicitário, achei o fim da picada. Fiquei pensando: e se a moda
pega?
As
primeiras a enviarem cartas de repúdio seriam as evangélicas. Inconformadas com
Dolores, ex-atriz pornô convertida ao pentecostalismo, as crentes alegariam que
a personagem denigre a imagem de quem vive o pudor e preza pelos “bons”
costumes.
Jogadores
de futebol enviariam cartas a Tufão, indignados com a proeminente barriga nos
tempos de flamengo. Que mal exemplo aos atletas, não?
Os
bígamos certamente esquadrinhariam Cadinho. MC Catra seria o autor da carta,
defendendo que não há traição na bigamia.
Moradores
do Lixão enviaram suas lástimas a Mãe Lucinda por sua vida sofrida que eles tão
intimamente conhecem. Mas certamente indagariam como é possível manter crianças
tão saudáveis em um ambiente tão imundo? “O governo vai achar que todo lixão é
esse paraíso”, afirmariam.
Os
suburbanos mandariam cartas à Associação de Moradores do Divino. Entre as
reclamações, a de que no subúrbio escuta-se todo tipo de música, e não só as
monossilábicas (“oi, oi, oi”, “tchu, tcha”, “ai, ai”, etc.) como retratado na
novela.
Quem
mora na Zona Sul defenderia que nem todo mundo que vive por aquelas bandas é
esnobe ou semibicha.
A
campeã de cartas seria Nina. Donos de bancos ficariam revoltados por ela sair a rua
com um milhão de reais em espécie, ao passo que poderia fazer uma tranquila
transferência de conta. Fabricantes de máquinas digitais não perdoariam a
personagem, que pôs em cheque a tecnologia digital, e ao invés de usar o cartão
de memória da máquina preferiu revelar as fotos comprometedoras e guardá-las. E por fim, as
mocinhas sofredoras das novelas das oito se incomodariam com tamanha
ingenuidade da personagem. Até Escrava Isaura se indignaria com a tolice de
Nina.
É
certo que o julgamento do mensalão respingou na classe publicitária. Já éramos
vistos como manipuladores, responsáveis pelo consumismo irresponsável de nossos
tempos. E agora, somos também chamados de corruptos. Mas também não podemos
esquecer que nossas propagandas estão repletas de estereótipos e trocadilhos, e
volta e meia alguém se revolta como sua classe está sendo retratada em anúncios
criados por nós.
O
mundo já tem gente demais se autodefendendo, dos quais os políticos encabeçam a
lista. É uma besteira tomar as dores
nessa altura do campeonato. Como dizia Augusto Branco, "A
finalidade da comunicação é fazer-se entender, mas há quem prefira se
desentender".
Nenhum comentário:
Postar um comentário