terça-feira, 25 de setembro de 2012

Em defesa dos publicitários. Mas precisamos de defesa?


Corre pelas redes sociais um texto atribuído a uma importante publicitária brasileira, em que ela, de forma leve e criativa, defende a ética da atividade publicitária. Escrita como uma carta em tom de crítica endereçada a Max, o vilão trapalhão de Avenida Brasil, o texto defende a credibilidade do profissional de publicidade. É que Carminha, sempre tão espirituosa, a certo momento da novela tentava convencer o até então marido Tufão a financiar uma agência de propaganda para Max. O autor da novela, João Emanuel Carneiro, talvez quisesse fazer referência a Marcos Valério e Duda Mendonça, publicitários envolvidos no escândalo do mensalão.
O texto é muito bem escrito, a intenção é bacana, e usar o gancho de uma novela de grande repercussão para defender a categoria pode até ser louvável. Mas, eu que também sou publicitário, achei o fim da picada. Fiquei pensando: e se a moda pega?
As primeiras a enviarem cartas de repúdio seriam as evangélicas. Inconformadas com Dolores, ex-atriz pornô convertida ao pentecostalismo, as crentes alegariam que a personagem denigre a imagem de quem vive o pudor e preza pelos “bons” costumes.
Jogadores de futebol enviariam cartas a Tufão, indignados com a proeminente barriga nos tempos de flamengo. Que mal exemplo aos atletas, não?
Os bígamos certamente esquadrinhariam Cadinho. MC Catra seria o autor da carta, defendendo que não há traição na bigamia.
Moradores do Lixão enviaram suas lástimas a Mãe Lucinda por sua vida sofrida que eles tão intimamente conhecem. Mas certamente indagariam como é possível manter crianças tão saudáveis em um ambiente tão imundo? “O governo vai achar que todo lixão é esse paraíso”, afirmariam.
Os suburbanos mandariam cartas à Associação de Moradores do Divino. Entre as reclamações, a de que no subúrbio escuta-se todo tipo de música, e não só as monossilábicas (“oi, oi, oi”, “tchu, tcha”, “ai, ai”, etc.) como retratado na novela.
Quem mora na Zona Sul defenderia que nem todo mundo que vive por aquelas bandas é esnobe ou semibicha.
A campeã de cartas seria Nina. Donos de bancos ficariam revoltados por ela sair a rua com um milhão de reais em espécie, ao passo que poderia fazer uma tranquila transferência de conta. Fabricantes de máquinas digitais não perdoariam a personagem, que pôs em cheque a tecnologia digital, e ao invés de usar o cartão de memória da máquina preferiu revelar as fotos comprometedoras e guardá-las. E por fim, as mocinhas sofredoras das novelas das oito se incomodariam com tamanha ingenuidade da personagem. Até Escrava Isaura se indignaria com a tolice de Nina.
É certo que o julgamento do mensalão respingou na classe publicitária. Já éramos vistos como manipuladores, responsáveis pelo consumismo irresponsável de nossos tempos. E agora, somos também chamados de corruptos. Mas também não podemos esquecer que nossas propagandas estão repletas de estereótipos e trocadilhos, e volta e meia alguém se revolta como sua classe está sendo retratada em anúncios criados por nós.
O mundo já tem gente demais se autodefendendo, dos quais os políticos encabeçam a lista.  É uma besteira tomar as dores nessa altura do campeonato. Como dizia Augusto Branco, "A finalidade da comunicação é fazer-se entender, mas há quem prefira se desentender".

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